dezembro 31, 2010

O melhor do teatro em 2010

POR: DÊNIS VICTORAZO, para o IG.




Chega o fim do ano e vem a irresistível vontade de fazer listas: acho que é uma tentativa de organizar o pensamento. Assim, catalogamos as coisas por categorias: os melhores; os piores; os que deveriam ter sido e não foram; os que surpreenderam.


Em final de década, a pretensão é ainda maior. Tentar relembrar os principais acontecimentos do teatro entre 2001 e 2010 seria tarefa pretensiosa para uma pessoa só - então pedimos ajuda para alguns artistas que participaram das artes cênicas nesse período. Para concluir o que de melhor aconteceu neste ano que termina, fiz três listas do que, em minha opinião, 2010 teve de mais memorável nos palcos brasileiros: os melhores espetáculos, atrizes e atores. Não foi uma missão simples - o ano foi pródigo em bons momentos teatrais. Veja se você concorda com a minha seleção e vote no melhor do ano.






A boa temporada de 2010


Este ano foi especial - tivemos uma enorme quantidade de bons espetáculos em São Paulo. Em agosto escrevi sobre a boa temporada teatral na cidade. Graças ao critério rigoroso ao escolher o que assistir, foram poucos os arrependimentos. Espero que o público tenha tido a mesma sorte, pois, sabe-se: quando não gosta de um espetáculo, o espectador demora a repetir a experiência. O objetivo dos textos que publiquei no IG era exatamente esse: indicar bons programas teatrais, despertar o interesse do público e facilitar as escolhas. 


A década dos grupos


Sem dúvida, a consolidação dos grupos teatrais foi forte nesta década que termina, e é sobre isso que nos fala o jornalista, dramaturgo e blogueiro Sérgio Roveri, que agitou a cena teatral dos últimos anos com os textos “Andaime”, “Horário de Visita”, “O Encontro das Águas”, “Abre as Asas Sobre Nós”, entre outros. “Acredito que a formação dos grupos foi das principais características do teatro nesta década. Esse crescimento não se revelou apenas na pesquisa e na produção dramatúrgica, mas no próprio resultado que se levou à cena, ou seja, foi um processo que abandonou as coxias para chegar ao público. É como se o teatro resolvesse revelar seus segredos, mostrar ao público o que ocorre antes de as cortinas se abrirem. Eu acredito que “Ensaio Hamlet”, da carioca Companhia dos Atores, foi o espetáculo que melhor soube traduzir esta nova realidade. Era um espetáculo dinâmico, envolvente e apaixonante, em que a ousadia foi usada de maneira inteligentíssima a serviço de um texto de 500 anos.”



Outro dramaturgo da mesma geração, o pernambucano Newton Moreno, autor de “Agreste” - certamente um dos espetáculos mais intrigantes da década -, “As Centenárias” e do atual sucesso carioca “Maria do Caritó”, comemora a potência dos grupos teatrais apontando para o futuro: “Eu reaprendi a força do teatro de grupo, principalmente em São Paulo. Emociona ver o nascimento das sedes-ninhos-fábricas de talentos na cidade; o fortalecimento dos grupos nascidos no século passado, convivendo com os novos coletivos teatrais. Falo do grupo “Os Fofos Encenam”, de que participo diretamente, mas também da “Cia Livre”, da “São Jorge de Variedades”, do grupo “XIX”, do “Latão”, do “Club Noir”, do “Teatro de Narradores” e de tantos outros que mantém de pé a cena teatral de São Paulo... Viva a diverCidade! Que sigamos assim na próxima década...”


Se, conforme previsto, no início do ano seu texto “Maria do Caritó”, com Lilia Cabral, estrear em São Paulo, começaremos bem, pois foi uma das grandes comédias que o Rio de Janeiro viu.






Os musicais e a comédia em pé


O formato stand-up comedy e os musicais não largaram o osso esse ano. Os espaços para quem quer ver humoristas da TV de perto, nesse gênero de comédia americana - onde um comediante sozinho conta piadas, geralmente em pé, apenas com um microfone à frente -, tem proliferado. Os musicais conquistaram também seu território, com montagens nacionais às vezes mais elaboradas até do que as da Broadway, caso de “A Gaiola das Loucas”.


Para explicar o mais recente fenômeno das stand-up comedies, conversei com a atriz e humorista Ângela Dip: “O público gosta porque é uma novidade e tem apelo jovem. Tudo que é jovem vende bem. No momento existe uma grande ligação com os humoristas da TV, e isso é outro apelo forte. Tem o ambiente informal que os bares oferecem. Você pode beber, sair no meio, conversar, e até intervir se tiver coragem...” Alguém se habilita? Ângela, que mesmo antes de ter feito parte do sucesso “Terça Insana” já havia se firmado também como autora e produtora, explica o maior desafio da stand-up: “Hoje os assuntos se esgotam com uma rapidez impressionante. Uma piada fica velha em um dia. E na stand-up o público tem que ter referência sobre o que você está falando para se identificar e rir. Temos que tentar ser originais, mesmo “chovendo no molhado”!” 



Talvez olhando o passado próximo, a gente consiga explicar como e de que forma essa arte tão antiga, o teatro, que volta e meia tem sua morte decretada, continua firme, conquistando novos fãs e novos artistas.






Os melhores de 2010


As peças:


1. “O Despertar da Primavera” – em minha opinião, o musical mais interessante do ano, na nova versão da Broadway, trazida ao Brasil por Charles Möeler e Claudio Botelho. Conseguiu ao mesmo tempo trazer a força do texto original de Frank Wedekind e a sedução do rock e baladas modernas. Destaque para Pierre Baitelli, um ator incomum, num elenco impecável.


2. "Maria de Caritó" – de Newton Moreno, com Lilia Cabral, Leopoldo Pacheco, Fernando Neves, Dani Barros e Silvia Poggetti. Um elenco delicioso numa comédia como não se faz mais. Em cartaz no Rio de Janeiro, deve estrear em São Paulo no ano que vem. 


3. “O Terceiro Sinal” – Bete Coelho faz o jornalista aterrorizado pelo auto-proposto desafio de enfrentar o palco. O texto de Otávio Frias Filho mostra que o teatro não é para qualquer um – não basta decidir ser ator.


4. “Hilda Hilst” – Uma montagem minúscula, que ficou em cartaz em teatros alternativos, foi das grandes surpresas do ano. Rosaly Papadopol reviveu com a intensidade certa o papel da complexa poetisa.


5. “In on It” – Uma daquelas peças que te fazem lembrar porque você adora ir ao teatro. Tudo aqui dá certo, e as interpretações de Emilio de Mello e Fernando Eiras são a mola propulsora para o texto interessante de Daniel Macivor.


Menções honrosas a “Memória da Cana”, do grupo Os Fofos Encenam, “Sideman”, “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”, com Beth Goulart, “Dueto para Um”, com Bel Kowarick, e “O Inferno são os Outros", com Marisa Orth interpretando Simone de Beauvoir no texto da jovem estreante Juliana Rosenthal.


As atrizes: 


Bete Coelho em “O Terceiro Sinal”


Marisa Orth em “O Inferno Sou Eu”


Lilia Cabral em “Maria do Caritó”


Rosaly Papadopol em “Hilda Hilst”


Beth Goulart em “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”


Os atores:


Marat Descartes em “Ligações Perigosas”


Emilio de Mello, “In on It”


Fernando Eiras, “In on It”


Marco Nanini em “Pterodátilos”


Pierre Baitelli em “O Despertar da Primavera”

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